sexta-feira, 19 de abril de 2024

Entrevistas da «Paris Review»


Entrevistas da «Paris Review»: E. M. Forster, Graham Greene, William Faulkner, Truman Capote, Ernest Hemingway, Lawrence Durrell, Boris Pasternak, Saul Bellow, Jorge Luis Borges, Jack Kerouac.
(Organização: Carlos Vaz Marques)
Páginas: 345
Tinta da China

A Literatura também possui as suas revistas famosas e a “Paris Review”, a par da "Granta", da "New York Review of Books", do "Magazine Literaire" é precisamente uma delas, tendo-se a primeira tornado famosa pelas suas entrevistas aos maiores nomes da Literatura.

The Paris Review nº.1

Neste primeiro volume estão reunidas dez entrevistas realizadas nas décadas de 50/60 e nelas iremos mergulhar na famosa oficina do escritor. Recordo que posteriormente foram editados mais dois volumes com "Entrevistas da Paris Review".

E. M. Forster
(1879 - 1970)

E. M. Forster abre o livro e as portas da sua casa para receber o entrevistador e ao longo desse encontro mergulhamos no templo do autor ficando a saber, entre muitas coisas, que nem sempre a acção retratada num livro serviu de local para a sua feitura, como nos confessa Forster a propósito de “Passagem Para a Índia”, que seria mais tarde adaptado ao cinema por David Lean.

Graham Greene
(1904 - 1991)

Já o encontro com Graham Greene, realizado também na sua casa, aborda o catolicismo da sua obra, vindo-nos de imediato à memória “O Fim da Aventura” com a inclusão do milagre e do pecado e a inevitável justiça de Deus. Um dado curioso neste encontro que ficamos a saber pela boca do escritor é que num concurso efectuado por uma revista junto dos seus leitores, convidando-os a imitar a escrita de Graham Greene, o escritor decidiu concorrer utilizando um pseudónimo, tendo obtido o segundo lugar.

William Faulkner
(1897 - 1962)

William Faulkner é outro dos escritores que abriu as portas à “Paris Review”, oferecendo uma das mais belas entrevistas inseridas no livro. Não só fala dos seus livros e do seu método, como nos conta sem pudores como conseguiu editor para o seu primeiro livro. A sua relação com o cinema também é motivo de interesse, oferecendo-nos o olhar de Hollywood de forma bastante mordaz.

Truman Capote
(1924 - 1984)

O “enfant-terrible” Truman Capote surge aqui também apresentando-se em todo o seu esplendor, nunca fugindo às perguntas do entrevistador, oferecendo-nos momentos de um humor único. Fala-nos do seu método e confessa a sua paixão pela literatura, não encontrando problemas em ler livros de outros autores enquanto escreve as suas obras, ao mesmo tempo que se revela um leitor compulsivo dos jornais diários.

Ernest Hemingway
(1899 - 1961)

Por seu lado Ernest Hemingway recebe o entrevistador da “Paris Review” com enorme relutância, sentindo-se a dificuldade do génio em ser confrontado pelo entrevistado na sua casa, situada na ilha de Cuba. O autor de “O Velho e o Mar” surge aqui muitas vezes não escondendo uma certa amargura por pessoas com quem conviveu, em especial Gertrud Stein, cujo relato dos encontros tidos na sua casa de Paris, não foram nada do agrado do escritor, que tão bem a retratou no seu "Paris é Uma Festa".

Lawrence Durrell
(1912 - 1990)

Lawrence Durrell, por seu lado, revela-se um maravilhoso conversador, oferecendo-nos um dos mais belos retratos que um escritor possa fazer de si, falando da sua infância sem pudores e da forma como desde sempre o universo literário o fascinou. Ficamos a saber como nasceu e foi escrita a sua obra literária mais famosa: “Quarteto de Alexandria”, que nasceu para fazer frente às dificuldades económicas então vividas, assim como foram criados os seus famosos livros de viagens, a maioria deles tendo por fundo as ilhas Gregas, aliás o escritor conta-nos que após ter publicado “Chipre, Limões Amargos”, achou por bem não regressar à ilha devido ao ambiente tumultuoso que então se vivia. Uma entrevista perfeita para figurar ao lado da sua obra, devido ao sabor das suas palavras.

Boris Pasternak
(1890 - 1960)

Outra das entrevistas mais belas deste livro é efectuada ao prémio Nobel Boris Pasternak, que irá conversar calmamente com a filha de uns amigos, falando não só da sua obra, mas da pátria onde vive. Ao longo das conversas efectuadas (foram várias durante alguns dias), a entrevistadora relata-nos de forma soberba o ambiente que se vive na casa deste grande vulto das letras, cuja obra mais célebre é o famosíssimo “Dr. Jivago”, como muitos devem estar recordados. A simplicidade das suas palavras e a modéstia que vive nelas é de uma ternura pela vida que nos deixa a todos profundamente seduzidos.

Saul Bellow
(1915 - 2005)

Saul Bellow por seu lado fala essencialmente da sua obra e muito em especial de “Herzog”, esse livro incontornável, que o transportou até ao pico da fama.

Jorge Luís Borges
(1899 - 1986)

Jorge Luis Borges oferece-nos outro dos momentos mais belos do livro, conversando tranquilamente com o entrevistador no seu local de trabalho, confessando o seu interesse pelo inglês e norueguês antigo, ao mesmo tempo que mergulhamos maravilhados nas suas palavras percorrendo esse universo único descoberto pelo mundo ao ler a sua obra mágica. Como não podia deixar de ser ficamos a saber como ele luta com a falta de visão, ao mesmo tempo que nos fala do seu interesse pelo cinema.

Jack Kerouac
(1922 - 1969)

A terminar este primeiro volume de entrevistas da "Paris Review" a autores que mudaram para sempre os caminhos da Literatura vamos encontrar Jack Kerouac na sua casa, sempre vigiado pela esposa Stella que faz uma verdadeira selecção de quem pode ou não falar com o escritor beatnick. Ficamos a conhecer a forma inteligente como o entrevistador se introduz no seu lar e, de imediato, percebemos que o maior nome da geração "beat" se encontra sobre o efeito de anfetaminas, mergulhando em respostas por vezes desconcertantes, mas profundamente reveladoras. Como não podia deixar de ser ficamos a conhecer um pouco melhor alguns dos episódios da sua convivência com Alan Ginsberg e outros nomes famosos da geração a que pertenceu, ao mesmo tempo que nos são oferecidos pormenores desconhecidos de como foram nascendo os seus livros.

The Paris Review
Outono 2023

Mergulhar na leitura destas entrevistas é equivalente a uma viagem pelo interior da Literatura do século xx, nas suas mais diversas vertentes, uma viagem que se apresenta profundamente gratificante para o leitor, que inevitavelmente é convidado a (re)descobrir a obra destes homens, que mudaram para sempre o universo Literário. Depois de lerem este belo volume de entrevistas da "Paris Review" há mais dois a esperarem por si!

Rui Luís Lima

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