terça-feira, 30 de abril de 2024

Alex Simmons - "P.T. 308" / "P.T. 308"


Alex Simmons
(Enrique Sánchez Pascual)
"P.T. 308" / "P.T. 308"
Páginas. 128
Colecção Guerra nº.17
S.Paulo - Distribuidora de Publicações/Palirex

Alex Simmons é um pseudónimo do escritor Enrique Sánchez Pascual, que ao longo da sua vida assinou 272 obras nos mais diversos géneros da denominada literatura popular, que nas décadas de 50/60/70, do século passado, tinha uma enorme divulgação no nosso país: os livros e a leitura faziam parte do quotidiano!

Enrique Sánchez Pascual
(1918 - 1996)

«Não foi uma lamentação...
O grito, podia classificar-se assim, parecia mais um grunhido de um animal bruscamente ferido. Um ruído áspero que fez com que Pat e Anthony estremecessem, ficassem imóveis entre a alta vegetação da selva e cerrassem os maxilares com toda a força que tinham para evitarem que estes batessem uns nos outros. Depois daquele grunhido, o silêncio pareceu converter-se numa coisa material, tornou-se mais denso e ficou tão pegajoso como o ambiente que os rodeava, como aquele ar podre onde pairavam as inalações que borbulhavam do lodoso solo, onde as botas se afundavam até aos tornozelos.»

Alex Simmons
(Enrique Sánchez Pascual)

"Hitchcock - Assassinos à Solta" / "Killers At Large" - Alfred Hitchcock's Mystery Magazine


"Hitchcock - Assassinos à Solta" / "Killers At Large"
Alfred Hitchcock's Mystery Magazine
Páginas: 2009
Impala

Este volume apresentado por Alfred Hitchcock oferece-nos um conjunto de contos policiais oriundos da sua famosa revista: "Alfred Hitchcok's Mystery Magazine". Estas antologias organizadas pelo famosos Mestre do Suspense, de forma temática, mas nunca repetitiva são uma verdadeira delicia para todos os amantes do livro policial e muitas destas "short-stories" irão ter adaptação televisiva.


"Hitchcock - Assassinos à Solta" / "Killers At Large" é para ser consumido em doses moderadas, nunca leia dois contos seguidos, para não cair em tentações, porque como irá descobrir o crime não compensa.

Rui Luís Lima

Paul Dellinger - "O Lobisomen de West Point"


Paul Dellinger
"O Lobisomen de West Point"
Magazine do Fantástico e Ficção Cientifica nº.2
(The Magazine of Fantasy and Science Fiction)
Matriz / Editorial Império

Paul Dellinger graduou-se pelo Roanoke College, Virginia, em 1960, passou os três anos seguintes no Exército, sendo destacado, durante os dois últimos anos, para o Information Office em West Point, chegando a director do jornal, que foi onde obteve o pano de fundo para este conto, em que o fantástico invade a célebre Academia Militar. Ao longo dos anos escreveu inúmeras "short-stories, incluindo para a rádio (The Adventures of Hap Hazard9, para além de diversos livros e colectâneas de contos de ficção-científica, para além de diversas revistas como a Fantastic, sendo mais tarde os textos reunidos e publicados em livro como sucedeu com "Mr. Lazarus and Other Stories".

Rui Luís Lima

.../...

«Se Maria Ouspenskaia tivesse nascido noutro lugar qualquer que não fosse a Rússia, eu não estaria a contar-lhes nada disto. A maior parte dos filmes em que a majestosa actriz de cabelo branco apareceu, foram anteriores ao meu tempo, mas apanhei alguns na TV, variando de «A Bala Mágica do Dr. Erlich» a «Tarzan e as Amazonas». Quanto a mim, no entanto, o seu mais memorável papel, foi o da velha cigana Maleva, a qual tentava curar Lon Chaney Jr. da licantropia em «O Homem Lobo» e «Frankenstein Contra o Homem Lobo». E isto foi antes de eu me ver frente a frente com ele, em pessoa, - não Chaney mas o verdadeiro.»

Paul Dellinger
in "O Lobisomen de West Point"

Philippe Sollers - "Portrait du Joueur"


Philippe Sollers
"Portrait du Joueur"
Folio nº.1786
Páginas: 352
Gallimard

«Je lève les yeux. Mon refuge est parfait. Chambre et jardin. Les hauts acacias remuent doucement devant moi. Je sens les vignes tout autour, à cent mètres, comme un océan sanguin. C'est la fin de l'après-midi, le moment où le raisin chauffe une dernière fois sous le soleil fluide. J'ai donc fini par revenir ici. Après tout ce temps. Chez moi, en somme. Ou presque. L'une de mes sœurs m'a prêté la maison... Ni ferme, ni manoir, ni château ; "chartreuse", ils appellent ça, repos, chasse, vendanges... Avec son drôle de nom musical anglais : Dowland... Je suis arrivé en voiture il y a deux heures... J'ai pris un bain, j'ai mis mon smoking pour moi seul, je me suis installé sous la glycine, pieds nus... Premier whisky, cigarettes... J'ai sorti ma machine à écrire, mon revolver, mes papiers : dossiers, lettres, cahiers et carnets... Vérifié si les malles étaient là, celles que j'ai demandé à Laure de me garder... Oui, deux grosses caisses remplies à craquer. Notre enfance aussi est tassée dedans, je suis sûr qu'elle n'a jamais jeté un coup d'œil...»

Philippe Sollers

Mel Gilden - "O Cão Verde"


Mel Gilden
"O Cão Verde"
Magazine do Fantástico e Ficção Cientifica nº.2
(The Magazine of Fantasy and Science Fiction)
Matriz / Editorial Império

Mel Gilden nascido em 1947 tem navegado com a sua escrita através da ficção-científica e as famosas short-stories, mas também tem abordado o universo da ficção juvenil surgindo essas histórias no Los Angeles Times, chegando a ter um programa na rádio sobre ficção-científica. A crítica tem aplaudido os seus livros e a sua actividade estende-se como consultor dos Parques temáticos da Disney. Na área da ficção juvenil ciou heróis como "Phantom 2040" e "James Bond Jr.". Este seu conto intitulado "O Cão Verde" aborda o fantástico para adultos, recorde-se que muitas vezes estes seus contos são possuidores de um pano de fundo judaico, tendo até o escritor de os intitular como "a ficção de Sião".

Rui Luís Lima

Planeta Júpiter

«Estava-se na parte mais quente da tarde quando Spinoza, um vendedor de gelados gordo e sujo, que estava sentado à sombra com as costas de encontro a uma árvore,, tornou a ver o cão verde. Desta vez o cão aproximou-se, farejando, os pneus do seu carro de gelados, o qual se encontrava estacionado na curva, a poucos metros de distância. Sabendo o que o animal tinha em mente, Spinoza rolou com dificuldade para se pôr de pé e correu, aos gritos e praguejando, na direcção dele. O bicho olhou-o por debaixo de uma pala cerdosa e fugiu correndo, usando um esquisito passo de lado.»

Mel Gilden
in "O Cão Verde"

Vladimir Nabokov - "Fogo Pálido"


Vladimir Nabokov
"Fogo Pálido"
Páginas:270
Teorema

Sete anos depois do famoso "Lolita" Vladimir Nabokov oferece-nos este fabuloso "Fogo Pálido".

Uma sugestão de leitura!

Robert F. Young - "Projecto Grande Ascenção"


Robert F. Young
"Projecto Grande Ascenção"
Magazine do Fantástico e Ficção Cientifica nº.3
(The Magazine of Fantasy and Science Fiction)
Matriz / Editorial Império

Robert Franklin Young - (1915 - 1986) iniciou a publicação de "short-stories" em 1953 em diversas revistas dedicadas à ficção-científica e desde logo alguns compararam a sua escrita com a do famoso Ray Bradbury. A sua obra foi traduzida em diversos países incluindo este belo conto que surgiu neste número do Magazine do Fantástico e Ficção Científica.

Rui Luís Lima

Plutão

«Assim que recebemos palavra de que a greve estava lançada, largámos o trabalho e viemo-nos embora. Eram 10 e 40 da manhã. Aqueles de nós que estavam escalados para fazerem o primeiro turno de piquete de greve, começaram a passear-se de cá para lá, defronte do portão. Os restantes, ficámos por ali durante um bocado fumando cigarros e especulando àcerca de quanto tempo estaríamos sem trabalhar. Depois afastámo-nos, pelas ruas serpenteantes, em direcção a casa.»

Robert F. Young
in "Projecto Grande Ascenção"

Pascal - "Pensamentos Escolhidos"

Pascal - (1623 - 1662)

Pascal
"Pensamentos Escolhidos"
Páginas: 150
Livros RTP
Biblioteca Básica Verbo nº.95

"Pensamento - 25"

«Estou em crer que, se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria quatro amigos no mundo.»

Blaise Pascal

René Goscinny / Sempé - “As Férias do Menino Nicolau"


René Goscinny / Sempé
“As Férias do Menino Nicolau"
Páginas: 152
Dom Quixote

René Goscinny et Sempé
"Les Vacances du Petit Nicolas"
Páginas: 160
Folio/Gallimard

As Aventuras de “Le Petit Nicolas” / “O Menino Nicolau” surgiram pela primeira vez na Imprensa Francesa através da célebre revista “Pilote”, de banda desenhada, tendo já passado mais de meio-século sobre o seu “nascimento”. Aliás, quando se comemorou o cinquentenário, em Paris no Hotel de Ville, foi apresentada uma magnifica exposição sobre a criança francesa mais célebre da Literatura: Le petit Nicolas!


Nessa mesma exposição em Paris foi possível assistir em vídeo a uma entrevista com Renè Goscinny, em que ele nos relatava como “Le Petit Nicolas” / “O Menino Nicolau” tinha nascido das suas memórias de infância, criando assim esta criança, que por vezes entende de uma maneira bem “sui generis” o universo dos adultos.

Recorde-se que, em Portugal, “As Aventuras do Menino Nicolau” surgiram pela primeira vez no célebre Cavaleiro Andante, sempre acompanhadas pelo traço inconfundível de Jean-Jacques Sempé (que recentemente nos deixou), que assim deu vida ao personagem e aos seus amigos de escola, para além do pai e da mãe.

René Goscinny
(1926 - 1977)

Em “As Férias do Menino Nicolau” / “Les Vacances du Petit Nicolas”, deparamos logo no início com uma discussão entre os pais do menino Nicolau sobre o destino das férias, perfeitamente delirante, já a estadia no belo Hotel Beau-Rivage não lhe fica atrás, obrigando-nos muitas vezes a recordar esse Monsieur Hulot criado por Jacques Tati e o seu filme “As Férias de Monsieur Hulot” / “as Férias do Senhor Hulot”.

Jean-Jacques Sempé
(1932 - 2022)

Depois temos o regresso a casa e a descoberta que a cidade está deserta (o célebre êxodo dos franceses) e não se tem ninguém para brincar, mas ao surgir a notícia da partida para um acampamento de férias, o Petit Nicolas vai-se sentir livre como o vento, perante a ausência dos pais, que na verdade ficam inconformados perante a sua alegria, iniciando-se de imediato as mais espantosas peripécias que nos fazem, inevitavelmente, recordar a nossa própria infância.

(Re)ler as aventuras do Petit Nicolas transforma-se assim numa maravilhosa viagem até ao território da nossa infância, que permanece bem vivo na nossa memória.

Rui Luís Lima

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Yukio Mishima - “O Tumulto das Ondas” / "Shiosai"


Yukio Mishima
“O Tumulto das Ondas” / "Shiosai"
Páginas: 174
Relógio D’Água

Foi através de um texto de António Mega Ferreira (*) publicado no JL – Jornal de Letras, na época em que ele era chefe de redacção, que descobri o escritor Yukio Mishima, o alvo era a publicação em Portugal de “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” e desde então tenho lido tudo o que encontro do autor japonês, depois temos o celebre filme que Paul Schrader realizou e essa obra incontornável que Margueritte Yourcenar escreveu sobre o escritor e disponível no nosso país graças à editora Relógio D’Água que também é responsável pela edição deste belo e singular romance intitulado “O Tumulto das Ondas” com ilustrações de Catarina Baleiras.

Estamos perante um belo romance que nos narra a história de amor entre Shinji, um jovem pescador pobre e a bela Hatsue de outra condição social, mas que não será impedimento para que a chama do amor surja de mansinho e os leve a unir esforços para ultrapassar as barreiras que os separam do Paraíso. Como já é habitual nestas pequenas crónicas aqui fica um pequeno trecho deste belíssimo livro de Yukio Mishima.

Rui Luís Lima

Yukio Mishima
(1925 - 1970)

(...) "Agora, já Shinji podia entrar livremente em casa de Miyata Terukichi. Um dia que voltava, apresentou-se à porta da casa com uma camisa de colarinho aberto, de brancura impecável, e com as calças acabadas de passar a ferro; em cada mão trazia uma dourada...
Hatsue esperava-o, já pronta. Os dois jovens haviam prometido ir ao templo de Yashiro e ao farol para anunciar o noivado e transmitir os agradecimentos.
Iluminou-se a entrada de terra batida mergulhada na meia escuridão do crepúsculo. Hatsue surgiu, vestida com aquele quimono de Verão, branco, com grandes campainhas, que comprara ao vendedor ambulante. A brancura do vestido brilhante, mesmo em plena noite.
Shinji ficara à espera, apoiando-se com uma mão à porta da entrada; baixou o olhar para Hatsue quando esta apareceu e, sacudindo uma das pernas calçadas com socos de madeira, como quem espanta os insectos, murmurou:
- Os mosquitos são terríveis!
- São, não são?
Os dois jovens subiram a escadaria de pedra que levava ao templo de Yashiro. Em vez de correrem por ali acima como poderiam ter feito, preferiram subir lentamente os degraus, com os corações banhados de alegria, como para saborearem o prazer de cada degrau." (...)

Yukio Mishima
in "O Tumulto das Ondas"

(*) - O Texto de António Mega Ferreira sobre Yukio Mishima que refiro, poderá ser encontrado no livro "A Borboleta de Nabokov". (Ed. Noticias)

domingo, 28 de abril de 2024

Os Livros e o Livreiro!


Os Livros e o Livreiro!

Desde tenra idade comecei a frequentar livrarias levado pela minha mãe e avó, ao mesmo tempo que devorava na livraria dos meus padrinhos os célebres livros de banda desenhada, assim como tudo o que apanhava, quando por lá se começaram a vender os livros de bolso surgidos em inicio dos anos setenta.


A livraria foi um daqueles espaços em que se descobria autores, mas também um lugar em que era possível fazer amizades, incluindo o próprio livreiro, que nos recomendava livros e nos abria os horizontes. Guardo na memória com saudade a Livraria Opinião do Hipólito Clemente, mesmo ali ao lado da Cervejaria Trindade. Por ali descobri os surrealistas e muito mais, porque as pequenas edições de autor, tinham sempre um lugar disponível, para sorrirem ao visitante. Depois eram as descobertas que se faziam sempre em maravilhosas conversas que guardo na memória para sempre, porque muitas vezes quem se encontrava por detrás dos balcões tratava os livros por tu e porque também eram leitores.


Hoje ao entramos numa livraria, quase sempre a resposta é-nos dada pelo computador e a sua famosa base de dados. Não há tempo para conversas e ficamos quase sempre restritos às novidades, embora se o livro não existir em stock, haver sempre essa possibilidade de o pedir ao editor. Os chamados fundos de catálogo não tem direito a habitarem as livrarias, eles dormem sossegados nos Armazéns e só conhecem a luz do dia para conviver com os leitores quando chega a Feira do Livro.

Quando nos apaixonamos pela escrita de um escritor temos o desejo de conhecer a totalidade da sua obra, mas muitas vezes é quase impossível descobrir as edições mais antigas, especialmente se ele for um habitante não dado às famosas novidades.


Por outro lado a chamada crítica literária nos jornais debruça-se quase sempre sobre as novidades do mercado, esquecendo-se desses livros que já viram a luz dos dias em anos passados e que se encontram esquecidos umas vezes nas estantes, outras nos armazéns das editoras.

Resta-nos assim essa aventura que se chama Alfarrabistas onde muitas vezes descobrimos aqueles livros que ouvimos falar aos nossos pais e avós, mas que nunca nos chegaram às mãos e quando os descobrimos perdidos nesse sótão dos Alfarrabistas é na verdade o prazer da leitura que ilumina as nossas almas.


Quando entrava na Byblos nas Amoreiras recordava-me sempre da Barnes & Nobles de Santa Mónica, pelo espaço e pelo número de títulos disponíveis, incluindo os chamados “fundos de catálogo”, mas essa aventura não foi correspondida pelos leitores e o espaço encerrou.

E como não podia deixar de ser a memória leva-me a essa época em que a censura existia e os livros eram apreendidos, ainda me lembro desses tempos (início dos anos setenta) em que lia no café “O Dinossauro Excelentíssimo” do José Cardoso Pires com desenhos do Júlio Pomar, devidamente forrado, para ninguém ver a capa ou “Os Subterrâneos da Liberdade” do Jorge Amado que mão amiga tinha emprestado.


Ler faz parte da vida e um universo sem livros corresponde inevitavelmente a uma passagem cinzenta poe esta estranha vida com o fim do planeta azul no horizonte e quando nos recordamos desses copistas da Idade Média que nos ofereciam o seu labor, tantas vezes à luz das velas, queimando a vista para que a cultura não se perdesse, só poderemos olhar os livros com toda a ternura do mundo, fazendo deles o nosso melhor amigo, porque quando regressamos à leitura de um livro amado, estamos perante esse reencontro, que tantas vezes nos transforma o olhar que temos, do triste mundo em que vivemos.

Rui Luís Lima

sábado, 27 de abril de 2024

& etc - Uma editora de sucesso!


& etc nº.1
Quinzenário Cultural
(17/01/1973)
Preço: 7$50
& etc - Uma Editora de Sucesso!

Tudo começou ainda andava eu a colar as tiras dos Peanuts publicadas no Diário de Lisboa, no caderno da instrução primária, sendo o melhor aquele das duas linhas para termos uma letra bonita. Nesse ano de 1965 o Jorrnal do Fundão foi proibido de ver a luz do dia de Maio a Novembro de 1965.

"& etc" no Jornal do Fundão
Suplemento Cultural!

O jornal regional incomodava o poder e em 1967 António Pauloro (director do jornal) e Vítor Silva Tavares (editor na Ulisseia) criam um suplemento cultural intitulado "& etc", que irá abanar os alicerces do regime. Porque como alguns ainda se recordam a cultura é um veneno mortal para as ditaduras e um perigoso xarope para as democracias populistas, daí estas últimas promoverem o futebol e a competição de talentos para impedir a cultura de se exprimir, promovendo o "penso logo desisto"!

"& etc" Quinzenário Cultural
O último número da revista!

E assim, entre finais de 1967 até 1971, o Suplemento Cultural do Jornal do Fundão intitulado "& etc" tornou-se o "mal-amado" do regime e na capital começou-se a vender o Jornal do Fundão.

Vítor Silva Tavares, que fizera muitas viagens entre Lisboa e o Fundão em 1973, decide abrir o ano a lançar a "folheca cultural & etc" da qual viriam a sair 25 números, quinzenalmente, cujas capas reproduzimos anteriormente no blog, que ao longo do tempo iriam mudar de papel, o inicial era muito fino, com um formato quadrado bem definido e do qual me foi parar às mãos um exemplar numa Feira do Livro.

O primeiro livro da editora "& etc"

Seriam 25 os números a ver a luz do dia, deste dito cujo quinzenário cultural, que viria a comprar na totalidade na Livraria Opinião por 200$00, prenda de aniversário da minha avó (1) e rapidamente travei conhecimento com o Hipólito Clemente, que quando saiu o "Coisas", primeiro livro da editora & etc situada no subterrâneo 3 da Rua da Emenda, ali para os lados do Largo do Camões, guardou-me um exemplar.

O primeiro livro da colecção "subterrâneo três"

A partir de então e durante longos anos todos os livros do "& etc" do Vítor Silva Tavares (1937 - 2015), com aqueles "hors-text" fabulosos do Carlos Ferreiro e no formato 15,5 x 17,5 cm, que reproduzia de certa forma as dimensões da "folheca cultural", entraram-me em casa eram de imediato lidos.


Vítor Silva Tavares
(1937 - 2015)

Neste século XXI já não temos as fabulosas edições & etc, o seu editor Vítor Silva Tavares deixou-nos em 2015, mas ainda pior é só termos a Biblioteca Nacional e a Casa Fernando Pessoa para lermos os livros da & etc (as tiragens eram pequeninas) editados por Vítor Silva Tavares, o editor que vivia fora do sistema!

O primeiro livro da colecção "contramargem".

(1) - Vi os "& etc" atados aos molhos com cordel nos degraus interiores da Livraria Opinião que davam acesso aos andares de cima e pedi ao Hipólito que mos guardasse, e fui a correr até casa, perto de S. Bento, e a avó Rosa lá me deu o dinheiro (era a prenda de aniversário, embora só fosse no dia seguinte) e lá regressei eu a correr até à Livraria Opinião, futura editora Cotovia e hoje...

Rui Luís Lima

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Vergílio Ferreira - "Manhã Submersa"


Vergílio Ferreira
"Manhã Submersa"
Livro de Bolso PEA nº21
Páginas: 175
Publicações Europa-América

O cineasta Lauro António realizou uma excelente adaptação cinematográfica deste livro de Vergílio Ferreira, revelando-se "Manhã Submersa" como um filme incontornável na filmografia do realizador, da mesma forma que é um livro indispensável na obra do escritor Vergílio Ferreira.

Rui Luís Lima

Philippe Sollers - "Paradis"


Philippe Sollers
"Paradis"
Páginas: 347
Points

"Paradis" pertence ao período em que o escritor Philippe Sollers escrevia os seus livros sem pontuação, referindo que o leitor deveria ler o texto à medida que respirava criando assim a sua própria respiração. Recordo que o célebre escritor que infelizmente nos deixou recentemente publicou diversos livros, segundo este método de escrita e cuja leitura termina por ser bem interessante, já que a escrita de Sollers é profundamente cativante. Infelizmente Philippe Sollers tem sido um escritor que tem sido esquecido pelas editoras no nosso país.

Rui Luís Lima

Pedro Tamen - "Tábua das Matérias" - Poesia - 1956 - 1990


Pedro Tamen
"Tábua das Matérias"
Poesia - 1956 - 1990
Páginas: 288
Tertúlia

Poeta, editor, cinéfilo e tradutor. Pedro Tamen que se estreou com o livro "Poemas Para Todos os Dias", em 1956, deixou-nos uma longa e bela obra de poesia, mas também traduções únicas como foi a obra de Marcel Proust. "Em Busca do Tempo Perdido", que leio e releio enquanto o tempo passa devagar nas margens da memória. Pedro Tamen deixou-nos a 29 de Julho de 2021.

Rui Luís Lima

Pedro Tamen
(1934 - 2021)

A Segurança Destas Paralelas

A segurança destas paralelas
— a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.

O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.

E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem — parcos nadas

que enchendo de silêncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.

Pedro Tamen,
in “Tábua das Matérias”

Robert A. Heinlein - "O Gato Que Atravessa as Paredes - 2" / "The Cat Who Walks Through Walls"


Robert A. Heinlein
"O Gato Que Atravessa as Paredes - 2" / "The Cat Who Walks Through Walls"
Colecção: Argonauta nº.380
Páginas: 254
Livros do Brasil

Para aqueles que leram o primeiro volume desta obra de Robert A. Heinlein, aviso desde já, que iremos conhecer finalmente o gato que atravessa paredes!

Rui Luís Lima

Robert A. Heinlein - "O Gato Que Atravessa as Paredes - 1" / "The Cat Who Walks Through Walls"


Robert A. Heinlein
"O Gato Que Atravessa as Paredes - 1" / "The Cat Who Walks Through Walls"
Colecção: Argonauta nº.379
Páginas: 256
Livros do Brasil

"Os ratos votaram em pôr um guizo no gato,"

Esopo

Jorge Fallorca - "Imitação da Morte dos Outros"


Jorge Fallorca
"Imitação da Morte dos Outros"
Páginas:106
& etc

No século passado a minha editora favorita era a & etc, eVítor Silva Tavares o seu artífice, lia tudo o que editavam e descobri assim inúmeros escritores saídos do Subterrâneo 3 da Rua da Emenda e Jorge Fallorca foi um deles!

Uma sugestão de leitura!

Rui Luís Lima

Vergílio Ferreira - "Conta Corrente 1"


Vergílio Ferreira
"Conta Corrente 1"
Páginas: 396
Bertrand
1981

Na época da sua publicação "Conta Corrente 1", o célebre diário do escritor Vergílio Ferreira fez "correr alguma tinta nas páginas culturais da imprensa", mas lido nos dias de hoje revela-se aquilo que são todos os diários, sem vir mal nenhum ao mundo!

Rui Luís Lima

Franz Kafka - "A Metamorfose"


Franz Kafka
"A Metamorfose"
Livros de Bolso Europa-América nº. 114
Páginas: 122
Publicações Europa-América

Mal iniciamos a leitura de "A Metamorfose" de Franz Kafka ficamos presos às páginas e só conseguimos largar o livro ao chegarmos ao final.

Rui Luís Lima

Raymond Chandler - "A Janela Alta" / "The High Window"


Raymond Chandler
"A Janela Alta" / "The High Window"
Páginas: 286
Colecção Vampiro nº.40
Livros do Brasil

Estamos perante um desses policiais "vintage" assinado por Raymond Chandler em 1942 em que mais uma vez iremos ter a companhia de Marlowe ou se preferirem Humphrey Bogart, porque quem conhece os filmes que se fizeram em Hollywood, ao ler os célebres romances de Raymond Chandler é inevitável associarmos o actor ao personagem e depois o ritmo de "A Janela Alta" / "The High Window" é de tal forma cinematográfico que no final de cada capítulo temos o "raccord" perfeito com o seguinte, como se tratasse de um filme, impedindo-nos de largar o livro. Confesso que o li de um fôlego, se me é permitida a expressão, e por outro lado nunca é demais referir que a literatura passa por aqui, porque Raymond Chandler é genial.

Raymond Chandler
(1888 - 1959)

Esta nova série da "Colecção Vampiro", que já vai no número quarenta feita sempre com enorme cuidado, desde as capas, à tradução e impressão, a qualidade do papel e até aquele belo marcador que acompanha sempre os livros e que tem como referência sempre o livro em questão, para além do preço convidativo, leva-nos a agradecer e a dar os parabéns aos editores e desejar que continuem por muitos e bons anos com estes novos "vampiros de bolso", que nos oferecem os Mestres da Literatura Policial!

Rui Luís Lima

quinta-feira, 25 de abril de 2024

José Cardoso Pires / João Abel Manta (ilustrações) - “Dinossauro Excelentíssimo”


José Cardoso Pires
João Abel Manta (ilustrações)
“Dinossauro Excelentíssimo”
Páginas: 93
Arcádia

No dia 24 de Abril de 1974 terminei, durante a noite (mal sabia eu o que seria o dia seguinte),de ler o “Dinossauro Excelentíssimo” escrito pelo José Cardoso Pires e confesso que me diverti imenso, ao ponto de 45 anos depois este ser a par de “A Cidade e As Serras” de Eça de Queiroz, os dois livros de prosa de escritores portugueses que levaria para a tal ilha deserta, segundo esse jogo da cinéfilia, passado à Literatura. O livro fora emprestado por “mão amiga” e encontrava-se forrado, não fosse o diabo andar por aí.

José Cardoso Pires
(1925 - 1998)

Muitos anos depois (1990) ao ler “A História do Mundo em Dez Capítulos e Meio” de Julian Barnes, “percebi” finalmente que quem tinha sabotado o famoso cadeirão de que nos fala José Cardoso Pires, foram aqueles dois indivíduos que no primeiro capítulo do livro, do escritor britânico, vão na Arca de Noé a dizerem mal de toda a gente, incluindo os outros animais e até do próprio Noé, ninguém escapa à sua poderosa maledicência.

Julian Barnes

Este fabuloso livro de José Cardoso Pires foi reeditado por diversas vezes, mas segundo a minha opinião, as ilustrações de João Abel Manta, são fundamentais para seguirmos a biografia do protagonista!

Rui Luís Lima

quarta-feira, 24 de abril de 2024

E. M. Forster - "Pharos & Pharillon - Uma Evocação de Alexandria"


E. M. Forster
"Pharos & Pharillon - Uma Evocação de Alexandria"
Páginas:118
Livros Cotovia

Há livros que nos deixam profundamente fascinados pela história de uma cidade e “Pharos & Pharillon – Uma Evocação de Alexandria”, da autoria de E. M. Forster, possui esse mesmo fascínio, revelando-nos a magnifica Arte deste escritor nascido em Londres em Janeiro de 1879 e que faleceu em 1970, deixando-nos uma obra extensa que irá passar ao cinema pelas mãos de James Ivory e David Lean, dois cineastas que sempre revelaram um enorme fascínio pela obra literária de Edward Morgan Forster.


O livro “Passagem Para a Índia” / “A Passage to India” esperou 14 anos para ser publicado, tendo sido levado muitos anos depois ao cinema pelo britânico David Lean, revelando-se como a última obra do cineasta britânico. “Quarto com Vista” / “A Room With a View” (1908) e “Howard’s End” (1910) chegaram ao cinema pela mão do americano James Ivory, assim como “Maurice”, uma obra literária que só viria a ser publicada um ano após a morte do escritor, de acordo com o seu desejo.

Edward Morgan Forster

“Pharos & Pharillon – Uma Evocação de Alexandria”, editado pelos Livros Cotovia, oferece-nos uma viagem por Alexandria, essa cidade egípcia que tanto fascinou o Ocidente e os seus escritores, bastando recordar o célebre “Quarteto de Alexandria” de Lawrence Durrell um dos maiores monumentos do universo literário, para nos situarmos no interior da cidade que E. M. Forster nos retrata desde o tempo da sua fundação até aos dias da escrita deste livro, convidando-nos a acompanhar diversas figuras que marcaram a vida da famosa cidade, muito anos antes de Cristo nascer, até chegarmos ao período contemporâneo e descobrirmos o maior poeta que habitou a cidade de Alexandria, o grego K. P. Kavafis, que nos irá deixar uma obra poética admirável e inesquecível.


Enquanto desfolhamos as páginas de “Pharos & Pharillon – Uma Evocação de Alexandria”, mergulhamos na vida desta conhecida cidade Egípcia desde a Antiguidade até à época contemporânea, sempre conduzidos por uma escrita fascinante, que nos vai relatando as inúmeras histórias dos seus habitantes mais ilustres, desde os sábios da Antiguidade, passando por Alexandre o Grande e Santo Agostinho, até chegarmos ao famoso Farol, para depois entrarmos no século XX e sentirmos a temperatura da cidade e das pessoas que a povoavam, tantas de forma anónima ou outras como Kavafis, que na solidão do seu quarto foi criando uma obra poética imortal e que bem merece ser (re)descoberta, já que na nossa língua possui em Jorge de Sena um dos seus melhores tradutores.


“Pharos & Pharillon – Uma Evocação de Alexandria” de E. M. Forster, não é um livro de viagens, mas sim uma monumental obra-literária que fascina o leitor da primeira à última página, levando-o a caminhar através dos tempos pelo pulsar de Alexandria, essa cidade profundamente literária, um símbolo perfeito da globalização, muito antes da palavra possuir o peso político que lhe foi dado pelas ideologias. Sendo sempre de referir que foram os Woolf, Leonard e Virginia, os editores deste belo “Pharos & Pharillion” no longínquo ano de 1923.

Rui Luís Lima