domingo, 28 de abril de 2024

Os Livros e o Livreiro!


Os Livros e o Livreiro!

Desde tenra idade comecei a frequentar livrarias levado pela minha mãe e avó, ao mesmo tempo que devorava na livraria dos meus padrinhos os célebres livros de banda desenhada, assim como tudo o que apanhava, quando por lá se começaram a vender os livros de bolso surgidos em inicio dos anos setenta.


A livraria foi um daqueles espaços em que se descobria autores, mas também um lugar em que era possível fazer amizades, incluindo o próprio livreiro, que nos recomendava livros e nos abria os horizontes. Guardo na memória com saudade a Livraria Opinião do Hipólito Clemente, mesmo ali ao lado da Cervejaria Trindade. Por ali descobri os surrealistas e muito mais, porque as pequenas edições de autor, tinham sempre um lugar disponível, para sorrirem ao visitante. Depois eram as descobertas que se faziam sempre em maravilhosas conversas que guardo na memória para sempre, porque muitas vezes quem se encontrava por detrás dos balcões tratava os livros por tu e porque também eram leitores.


Hoje ao entramos numa livraria, quase sempre a resposta é-nos dada pelo computador e a sua famosa base de dados. Não há tempo para conversas e ficamos quase sempre restritos às novidades, embora se o livro não existir em stock, haver sempre essa possibilidade de o pedir ao editor. Os chamados fundos de catálogo não tem direito a habitarem as livrarias, eles dormem sossegados nos Armazéns e só conhecem a luz do dia para conviver com os leitores quando chega a Feira do Livro.

Quando nos apaixonamos pela escrita de um escritor temos o desejo de conhecer a totalidade da sua obra, mas muitas vezes é quase impossível descobrir as edições mais antigas, especialmente se ele for um habitante não dado às famosas novidades.


Por outro lado a chamada crítica literária nos jornais debruça-se quase sempre sobre as novidades do mercado, esquecendo-se desses livros que já viram a luz dos dias em anos passados e que se encontram esquecidos umas vezes nas estantes, outras nos armazéns das editoras.

Resta-nos assim essa aventura que se chama Alfarrabistas onde muitas vezes descobrimos aqueles livros que ouvimos falar aos nossos pais e avós, mas que nunca nos chegaram às mãos e quando os descobrimos perdidos nesse sótão dos Alfarrabistas é na verdade o prazer da leitura que ilumina as nossas almas.


Quando entrava na Byblos nas Amoreiras recordava-me sempre da Barnes & Nobles de Santa Mónica, pelo espaço e pelo número de títulos disponíveis, incluindo os chamados “fundos de catálogo”, mas essa aventura não foi correspondida pelos leitores e o espaço encerrou.

E como não podia deixar de ser a memória leva-me a essa época em que a censura existia e os livros eram apreendidos, ainda me lembro desses tempos (início dos anos setenta) em que lia no café “O Dinossauro Excelentíssimo” do José Cardoso Pires com desenhos do Júlio Pomar, devidamente forrado, para ninguém ver a capa ou “Os Subterrâneos da Liberdade” do Jorge Amado que mão amiga tinha emprestado.


Ler faz parte da vida e um universo sem livros corresponde inevitavelmente a uma passagem cinzenta poe esta estranha vida com o fim do planeta azul no horizonte e quando nos recordamos desses copistas da Idade Média que nos ofereciam o seu labor, tantas vezes à luz das velas, queimando a vista para que a cultura não se perdesse, só poderemos olhar os livros com toda a ternura do mundo, fazendo deles o nosso melhor amigo, porque quando regressamos à leitura de um livro amado, estamos perante esse reencontro, que tantas vezes nos transforma o olhar que temos, do triste mundo em que vivemos.

Rui Luís Lima

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